Agricultura Livre

A Agricultura é a atividade humana de maior importância, já que não existe quem não se relacione com seu produto, pois se você se alimenta você tem relação com a Agricultura. Podemos viver sem grandes cidades, sem veículos, sem tecnologia, sem confortos da atualidade, mas nunca sem alimentos.

A Agricultura, sendo uma atividade humana, pode ser vista pelo prisma da Arte, representando nesse contexto, a busca por sublimação, ou então, um aprimoramento da habilidade humana em refletir e materializar algo superior, aspirado e característico de nossa natureza original positiva.

 Ser Livre é de máxima importância para quem está preso, no caso da Agricultura, preso a principios e conceitos que se refletem em técnicas depredatórias ao Solo, meio ambiente e a saúde humana; partindo dessa premissa, todo desenvolvimento e avanço tecnológico somente nos ajudam a chegar mais rápido no lugar errado. 

O conceito de Território, Mapa e Veículo

O Território pode ser definido como Princípios Naturais e correspondem a melhor leitura possível da realidade, o Mapa corresponde a nossa habilidade em interpretar o território, é a nossa visão materializada, e o veículo são nossas ações, a nossa ciência e técnicas.

Imagine que precise ir de uma cidade a outra num local desconhecido, existe um território a ser percorrido, precisará de um mapa preciso e então de um veículo. É possível perceber que o veículo é o que menos importa e que, o mais importante, é uma leitura mais próxima da realidade do território e sua materialização habilidosa e artificiosa como mapa.

O mesmo conceito pode ser aplicado a todas as áreas de atividade humana, no desenvolvimento pessoal, o imutável território é descrito pelos Princípios, o mapa é comparável a formação do nosso caráter e o veículo a nossa personalidade. É notável a importância que se dá a personalidade atualmente e negligência de Principios e caráter, assim como os resultados na Agricultura se refletem na deterioração do solo e saúde, no desenvolvimento pessoal se refletem na deterioração da felicidade e verdadeira liberdade. Poderia citar ainda as áreas medicinais, econômica, política, educação, arte etc.

Os Princípios ou Território podem ser interpretados de diferentes formas de acordo a cultura local e época, e as vezes confundidos com virtudes humanas como a honestidade, fraternidade, humildade, liberdade, diligência, disciplina, constância etc. Virtudes já são aplicações no campo do Humano e não Princípios em si. Nessa abordagem, entende-se por Princípios Naturais, propriedades de movimento da Vida observadas e traduzidas para a nossa linguagem, que tem a característica de serem atemporais, podem ser observadas em qualquer época ou tempo; oniscientes, compõem a origem de todas as manifestações, e onipresentes, podem ser observadas em toda a parte, desde galáxias a um único átomo. Essas 3 características nos indicam uma ideia de Unidade, que dependendo de sua orientação, pode ser compreendida como Deus ou Mente Universal ou Natureza e ainda como Lei.

É muito raro uma obra que nos ensine sobre isso, tratam de maneira indireta e dependendo da época as vezes através de mitologias, lendas e histórias, ou então através dogmas, código de ética e moral, e tambem limitado a uma área específica de estudo. Na ciência se fala da teoria de tudo ainda não alcançada, aquela que conectaria as teorias quânticas com a relatividade, ou o micro com o macro. A teoria das cordas é um avanço teórico matemático nesse sentido, mas ainda não pode ser experimentada devido a limitações de capacidade experimental atual. Parece que a ciência se esforça para chegar onde os homens sábios e grandes religiosos já estavam a muito tempo, e isso é positivo e seu papel original e terciário como veículo para manifestação e a utilização ampla dessas realidades. A convergência dos conceitos relacionados ao Solo da ciência de Solo atual à Agricultura Natural pode ser um bom exemplo.

Todo o desenvolvimento humano em qualquer área, tem relação com o gradual desvendar e aplicação dessas propriedades ou Princípios, seja ele espiritual, filosófico ou científico. Um bom exemplo é a eletricidade, ela sempre existiu, com o desvendar do conhecimento e experiências sobre o assunto, hoje podemos desfrutar da sua existência com muita facilidade.  De tempos em tempos esses conhecimentos e aplicações são insuflados por humanos nas diversas áreas e culturas, nesse contexto, não há diferença alguma quanto a origem religiosa, filosófica ou cientifica. Essas atuações desses ultra seres humanos, é marcada por uma missão específica de acordo com o momento histórico, pessoas e necessidade de desenvolvimento com abrangência global ou local.

Para o conhecimento, parece haver um ponto inicial ao intermediário no nosso desenvolvimento onde podemos achar que sabemos algo ou muito, e é comum surgir uma espécie de vaidade, julgamento, parcialidade e arrogância, avançada essa etapa inicial, tende a surgir uma genuína humildade diante de um Universo ordenado de infinitas possibilidades, onde o foco passa a ser o ajuste e equilíbrio dinâmico ao invés do apego às muitas e numerosas definições rasas que até então foram feitas e que menosprezam a Natureza. As únicas definições que parecem ser realmente sólidas e válidas, se reduzem a aplicação da observação dos Princípios Naturais, e o constante movimento e busca por desenvolvimento e sublimação da manifestação da Vida em todas as suas formas dentre elas, as virtudes humanas. 

Atualmente, muita ênfase é dada a nossa limitada capacidade experimental e teórica, o veículo, e pouquíssimo, ou quase nada, se fala sobre a origem das coisas, sobre Princípios Naturais, origem das ideias e linhas de pensamentos que resultam, e invariavelmente, antecedem uma abordagem cientifica ou uma ideologia, no caso da agricultura, por trás de um método ou tecnologia de plantio existe uma origem, um objetivo, uma visão de mundo, uma ideia sobre vida, meio ambiente e sobre a natureza humana.

Uma Princípio Natural básico é o da precedência do Espírito perante a matéria, em outras palavras, o sútil precede o que é denso, não há corpo algum que não seja formado por minúsculos átomos, e esse átomos formados por partículas ainda menores e assim por diante. Outro Princípio muito negligenciado atualmente é o da Purificação, ou correção natural e separação dos elementos em úteis e inúteis e o consequente processo de expurgo ou dissipação. O impacto da aplicação dessas duas únicas propriedades naturais, na atual conjuntura e sociedade, já potencializaria uma revolução e inversão de direção, na Medicina, Agricultura, Arte etc.

Dentre os Principios ou propriedades naturais, como exemplo, podemos citar da obra de Mokiti Okada – Meishu-Sama, os seguintes: Precedência do Espírito, Tempo, Ordem, Purificação, Causa e Efeito, Harmonia, Identidade, Inversão, Efeito Contrário e Sintonia, e ainda de uma fonte muito mais antiga que remete a Hermes Trismegisto no Egito e relatado no livro Caibalion: Mentalismo, Correspondência, Vibração, Polaridade, Ritmo, Causa e Efeito, Gênero. Esse um bom exemplo de convergência apesar da gigantesca diferença entre épocas, culturas e missão específica.

Fazendo uma analogia ao Território, Mapa e Veículo, os Princípios e sua compreensão devem preceder qualquer ação ou manifestação no físico. Parece ser bastante claro que os Princípios representam o ponto de convergência para todas as áreas de conhecimento e culturas, e marca a realidade da Unidade que se manifesta em infinitas formas, dissolve aparentes divisões, fronteiras e separações. Um e muitos ao mesmo tempo. Isso não significa reduzir a individualidade, mas sim, torná-la primordial e foco central do desenvolvimento humano, porque somente pode existir o coletivo a partir da união ou convergência de indivíduos, pode ser visto no campo do desenvolvimento pessoal como a necessidade de primeiro conquistar a independência (relação com si mesmo) e a posterior conquista da interdependência (relação com os outros), nesse contexto, um pesquisador americano Stephen Covey [5] esclarece que a independência se conquista a partir da pratica de 3 hábitos, ser proativo, não responder a impulsos mas sim de acordo com seus ideais, ter objetivo em mente e saber priorizar oque é mais importante; ja a interdependência esta relacionada aos hábitos de realizar acordos de beneficio mútuo ganha-ganha, exercitar empatia e criar sinergia. Por incrível que pareça, a grande maioria de nós não sabe oque é realmente importante para si mesmo, muitas vezes corremos atrás de metas que nada tem haver com o que realmente queremos, esse pesquisador, traz alguns exercícios desenvolvidos em sua pesquisa que podem ajudar a esclarecer e foram confirmados por meio da experiência com pessoas nos altos escalões de corporações diversas.

Alguns podem confundir que a existência de Principios ou Lei, limitaria a diversidade e liberdade, mas parece ser o contrário, somente através dessa existência, é que as infinitas formas e possibilidades podem se manifestar livremente.

O objetivo do conhecimento nesse contexto, é de abrir caminho para a manifestação da nossa natureza positiva e conexão com a sabedoria Universal, temos por natureza o potencial e capacidade dessa conexão e de reconhecer a Verdade, o Bem e a Beleza. Pode ser visto também pelo prisma da ordenada relação de nossa mente consciente, objetiva, representada pelo conjunto cérebro espinhal e sistema nervoso parassimpático, com a nossa mente subconsciente, subjetiva, representada pelo plexo solar centro do sistema nervoso simpático, conectados pelo nervo vago [6]. A mente consciente faz o papel de guardiã da mente subconsciente que esta ligada a fonte universal e cria tudo que lhe é sugerido pelo consciente.

A Agricultura, como a mais importante atividade humana, antes de ser um conjunto de técnicas e aplicações, necessita de uma clara visão sobre o território, baseada em Princípios, traduzida para a mente e coração humano, para então tomar forma, utilizar e conduzir apropriadamente o conhecimento científico, técnicas e tecnologia disponíveis, e então, às desenvolver sobre esses pilares.

Liberdade e suas faces

Impossível a definição de uma Agricultura Livre, sem antes contextualizar o ambiente interno de seu principal ator, o Ser Humano. Ao mesmo tempo que é algo simples, pode ser também muito sofisticado.

Não há como falar sobre liberdade ou ser livre, sem um modelo que nos auxilie a perceber aspectos da natureza humana. Existe uma convergência de conceitos quanto a natureza humana nas mais diversas religiões e escolas de filosofia, do Oriente ao Ocidente, o essencial se mantém, e qualquer um pode facilmente perceber no interior de si mesmo, a presença e relação entre uma força virtuosa e positiva e seu oposto animal e negativa.

Toda e qualquer estado de sentir humano pode considerar esse aspecto de convergência de experiencias das mais diversas culturas sobre a natureza humana. Com essa consideração, as definições de liberdade podem ter uma origem verdadeira e positiva, que constrói e sublima, ou então, origem falsa e negativa, que destrói e densifica onde o instinto se sobrepõe às virtudes e não existe mais Arte, resta somente medo, interesse e sobrevivência.

A origem positiva de Liberdade que sublima o ser humano e o torna feliz e livre, parece estar conectada diretamente ás virtudes humanas de sua natureza positiva. Quanto a essas virtudes podem ser sintetizadas em um termo ensinado pelo mestre Meishu-Sama como “Makoto”; no texto a seguir, temos uma definição de Liberdade feita pelo Mestre:

“(...) Deus concedeu ao homem a liberdade infinita. Eis a Verdade. As outras criaturas, como os animais e os vegetais, gozam de liberdade limitada. Aqui se percebe a superioridade do homem. Falar da sua liberdade é dizer que ele ocupa o ponto médio entre os dois extremos – o animal e o Divino. Quando ele se eleva, torna-se Divino; quando se corrompe, equipara-se ao animal. Se desenvolvermos esse princípio, veremos que basta o homem querer, para que o mundo se converta em Paraíso. Caso contrário, ele faz do mundo um inferno. Esta é a Verdade.  (...)” [1]

Quanto a origem negativa de falsa Liberdade, que densifica o ser humano, ou seja, o torna infeliz e escravo de seu instinto, está conectada ao medo e desejos, sendo suas cabeças o egoísmo e o apego que se multiplicam em várias formas pela busca desenfreada de prazeres temporários, ganância desmedida, drogas, fama, poder, vaidade, presunção, arrogância, narcisismo e por aí vai.

Na pintura chinesa abaixo que retrata o sábio Lao-Tse, podemos observar tudo oque foi retratado acima, como uma síntese. Com o devido ajuste do olhar, o sábio chines caminha livremente em cima do seu boi sem sequer usar rédeas ou o chicote, ele está suavemente no comando total da situação, o animal o leva onde quiser numa total interação e ordenação, essa é a condição de um verdadeiro ser humano feliz e livre nessa abordagem 

Ainda sobre as virtudes humanas, abaixo temos uma figura que retrata essas qualidades e a noção de equilíbrio quanto a deficiência e excesso de sua aplicação. Como tudo na Natureza, demostra a necessidade de balanço e ajuste no desenvolvimento dessas qualidades.



Agora utilizando a Arte da poesia como veículo, Kalil Gibran na obra “o Profeta” [2] escreve sobre liberdade:

“Só sereis verdadeiramente livres não quando vossos dias não tiverem uma única preocupação, e vossas noites, uma única necessidade e tristeza, mas quando essas coisas sujeitam a vossa vida, e mesmo assim, vos elevardes sobre elas, sem vestes e sem amarras”

“Verdadeiramente todas as coisas se movimentam em vosso ser em um abraço constante: o desejado e odiado, o repugnante e o amado, o perseguido e aquilo que quereis fugir”

Na Filosofia, Platão diz que o alimento é o principal assunto do faminto, ou seja, a liberdade é o principal assunto do escravo. Kant diz o mesmo sobre a felicidade, que assim como a liberdade, não devem ser as finalidades do humano, mas sim um subproduto do seu compromisso e responsabilidade com valores e virtudes humanas que o faz comandar sua natureza animal. Imaginando o contrário, ou então se felicidade e liberdade se tornam objetivos no ser humano medroso e instintivo,que seria nossa condição inicial, a busca por liberdade se converte facilmente em escravidão ao animal interno como libertinagem, desrespeito a si próprio e aos outros; a busca da felicidade se converte então em egoísmo e carência excessiva.

Liberdade e Felicidade nessa abordagem, portanto, não devem ser objetivos primordiais e sequer uma meta, e sim um efeito natural e secundário que tem como causa a atitude daqueles que com coragem, primeiramente, enfrentam o touro em si mesmo, o dominam, educam, se posicionam como seu Senhor, e não servo.

As figuras abaixo retratam esse caminho de desenvolvimento humano de maneira distintas, mas com muita convergência, do Ocidente ao Oriente.

Platão: O Mito da Caverna

Na ilustração acima é possível visualizar o homem livre e feliz já fora da caverna e o homem infeliz acorrentado à esquerda, temendo as projeções manipuladas na parede de seu próprio cárcere. Os homens saindo da caverna já descobriram a manipulação e projeção, e anseiam pela liberdade e claridade do dia. A ilustração traz uma forte referência a questões externas ao próprio homem, mas pode ser visto também, como um retrato dos compromissos individuais com sua natureza positiva superior, o homem livre; ou o compromisso com sua natureza negativa inferior, o homem acorrentado e amedrontado e ainda a posição intermediária, onde está a caminho da liberdade na penumbra da caverna.

Mestre Kakuan :Os 10 Koans do Zen Budismo Sec.XII [3]

Os Kuans foram utilizados como um “vestibular” para ingresso na escola ZEN no sec. XII, aqueles que acertassem a sequência da evolução do desenvolvimento humano, através da ordenação das figuras acima, seriam aceitos como discípulos. Portanto, os discípulos que ingressavam na escola ZEN já tinham uma clareza mental e consciência da natureza humana bastante desenvolvida. O primeiro Kuan mostra o homem procurando algo,  já existe um sentido de busca interno de reconexão; o segundo Kuan ele encontra as pegadas e pistas; no terceiro se assusta com oque se depara e ainda não vê a cabeça do animal, egoísmo e apego, do quarto ao sexto marcam um período de enfrentamento, confronto, coragem, luta e enfim o controle e a dominância; o sétimo Kuan marca o período da contemplação; o oitavo Kuan o vazio e unidade de todas as coisas, o nono Kuan representa a iluminação e abundância, o ser humano passa a ser fonte de energia e por fim, o décimo Kuan, o retorno a morada por misericórdia à aqueles que estão se desenvolvendo. O objetivo das definições acima, é apenas dar uma ideia, uma explicação sucinta, cada Kuan ou etapas, podem ser desenvolvidos de muitas formas.

Parece também que a Liberdade está relacionada ao simples conceito de fazer oque se quer, quando e onde quiser, mas considerando à Natureza humana e necessidades do seu desenvolvimento, a única possibilidade de ser livre parece estar no cultivo de nossas virtudes e ao completo domínio sobre nossa natureza instintiva, sem compromissos e responsabilidade não há como conquistá-la. Se a Liberdade não considerar esses fatores básicos, ela será facilmente utilizada para nos aproximar de um animal irracional onde medo e sobrevivência imperam.

 A falsa liberdade pode ser considerada como uma maquiagem do medo instintivo que implora miseravelmente por energia externa, já que no caso do humano, esqueceu de seu potencial de ser também fonte sublime de muita energia através de suas virtudes que potencializam sua melhor natureza.

Dominar e direcionar nossa natureza animal não significa abdicar dela ou então fazê-la sofrer, mas sim comandá-la, nessa condição, os mesmos prazeres temporários e perecíveis tão buscados no âmago da falsa liberdade, são alçados a níveis de energia muitíssimas vezes maiores, o prazer se torna muitas vezes mais poderosos e variado, se fosse o contrário, seria como dizer que é muito melhor ser um animal e que a própria Natureza teria errado na obra-prima que é o ser humano, ou então, fazendo uma analogia, seria como achar que ter um cão de guarda desobediente, raivoso e descontrolado é melhor do que ter um cão de guarda muito bem adestrado e pronto para, há qualquer comando, liberar toda sua energia, inclusive, na visão e experiência dos adestradores sobre o cão adestrado, pode se dizer que é um cão muito mais feliz.

Se perguntarmos para as pessoas a nossa volta no que está baseada a sua felicidade e liberdade ou então a falta delas, a grande maioria apontará para fatores externos, como família, amigos, filhos, relacionamentos, posses de bens como imóveis, veículos, dinheiro, ou então popularidade, fama, renda, trabalho etc. Uma característica que todas essas conquistas têm em comum, é que são externas ao indivíduo humano e a qualquer momento podem ser retiradas de nós, pode ser pela morte, doença, crise financeira e estatal, perda do emprego, término de relacionamento, traições, não há como uma pessoa lúcida não temer essa possibilidade. O medo é constante, instintivo e possui raízes profundas e não aparentes, pois as nossas posses em sua maioria, estão baseadas em elementos externos, isso altera o teor e brilho de todas as nossas relações, com origem no medo, surge o apego e o egoísmo destrutivos por natureza. Uma vez que suas posses se tornem internas e baseadas nas virtudes humanas, aprimoradas pela busca e amor a sabedoria, no compromisso com sua própria natureza, o medo se esvazia, simplesmente porque não há como lhe tirarem esses valores, o teor e brilho das relações externas se intensifica e atinge o que pode ser chamado de genuíno ou verdadeiro, o amor, a amizade, as posses externas e todas as experiências são energizadas e se tornam muitas vezes mais intensas e construtivas, conquistasse então, a tal felicidade e liberdade nessa abordagem.

Agricultura Livre

Conforme o conteúdo e à abordagem acima, uma Agricultura ser Livre, está diretamente relacionado ao seu ator, o ser humano. Necessita, portanto, estar baseada em Principios Naturais, que considere os aspectos da natureza humana e sua conexão com o Natural, e habilmente estabelece diretrizes que se moldam a cenários diversos que permitam a utilização de todos e quaisquer recursos úteis. Agricultura Natural é um modelo de Agricultura que considera e completa esses requisitos.

A Agricultura Natural ensinada por Mokiti Okada, sintetiza uma condição de agricultura de homens realmente livres, não se prende a dogmas e métodos, pode utilizar conforme a necessidade os conhecimento ancestrais e técnicas atuais mantendo o alinhamento aos Princípios Naturais, resgata os agricultores de uma situação de dependência precária de adubos e sementes, resgata o consumidor de um estado de saúde prejudicado pela baixa qualidade, resgata a biodiversidade pela guarda e adaptação das sementes, recupera o solo envenenado e degradado, valoriza e se adapta a cultura local. Sua aplicação é denominada como uma arte prática de descoberta que objetiva vivificar cada vez mais a vida do Solo e manifestar em ações do manejo, o respeito, o amor e a gratidão ao Solo. Tem por base o reconhecimento do Solo como ser energético vivo, com sentimentos e emoções, criado com habilidade e potencial para nutrir a vida nas mais diversas formas.

Nas palavras de uma importante cientista de solo reconhecida no Brasil e no Mundo, Ana Primavesi, em seu livro “Manual do Solo Vivo”, no seu texto final nos recomenda e escreve:

É possível mudar

Não necessitamos somente explorar solos mortos como faz a tecnologia sofisticada da agricultura convencional. Podemos trabalhar com solos vivos. A Agricultura Natural, ecológica, não é uma alternativa, mas uma exigência urgente, antes que a água doce residente termine em nosso planeta e que todas as pessoa estejam irrecuperavelmente degeneradas ou doentes. E se considerarmos que todo esse “desenvolvimento” foi implantado a cinquenta anos, é óbvio que mais cinquenta anos, nossos solos, água, cultura, rebanhos, atmosfera e humanidade não aguentarão.

O que a Agricultura Natural, ecológica, pretende não é somente plantar sem uso de agrotóxicos para que o produtor possa ganhar o preço justo, prometido por uma população que anseia por um alimento menos tóxico e mais nutritivo na tentativa de sobreviver. Normalmente, esta mudança abrupta da agricultura convencional para orgânica é difícil e mais laboriosa. É necessário crédito para superar os primeiros anos da transição, deve-se pagar os certificadores desde o momento em que se resolveu mudar, embora ainda não se possa beneficiar do preço maior. Desta maneira, até hoje, toda a agricultura orgânica, em todo o mundo, não ocupa mais de 1% da terra. Mas a agricultura Natural, ecológica, é capaz de colocar o mundo destruído novamente em ordem, com solos vivos, sadios e produtivos, água suficiente, culturas sadias, colheitas elevadas, criando paz, bem-estar e saúde, sem nenhuma classe sacrificada, para que todos possam sobreviver com dignidade.

A Agricultura Natural não vê fatores isolados, mas sempre considera o inteiro da natureza: os sistemas naturais, os ciclos vitais e a humanidade dentro deste sistema. Ela almeja a sua recuperação e manutenção. Com certeza, cada tipo de agricultura é uma agressão ao meio ambiente, mas esta pode ser mínima ou catastrófica.

A Agricultura Natural é a única que é ecológica, trabalhando com solos vivos dentro de sistemas e ciclos. O início de tudo é o solo que, quando degradado, significa também o fim da água, de tudo e de toda a vida terrestre...” [4]

A Agricultura Natural estabelece o pilar de uma Agricultura livre e desimpedida, ensina sobre a origem e manifestação da força da Natureza, posiciona o ser humano através de mente, coração e ação, para incentivar a força vital do Solo e conquistar a plena satisfação.

Sobre esse Estudo

Esse é um estudo pessoal, que tem por objetivo sumarizar e dar base para um conceito ideal de Agricultura justa e livre, mesmo que de maneira ainda superficial no campo das ideias, sem tocar diretamente a parte mais importante sobre o chamado mundo Espiritual, onde nesta abordagem, é a origem de tudo, também da religiosidade, como característica natural do ser humano e tão mal interpretada atualmente, essa caracteristica natural se manifesta como a busca de sublimação, desenvolvimento e melhoria em todos os aspectos da vida, não existe nada na Natureza que não manifeste essa busca. A vantagem de se falar sobre Princípios é que mesmo nesse mundo não mensurável da origem das ideias, os Princípios mantém suas 3 propriedades (onisciência, onipresença e onipotência) e são totalmente aplicáveis, sem a limitação da densidade e morosidade da matéria, é muitas vezes mais perceptível e até rigorosa segundo os muitos milhares de experiências humanas já registradas. Esse estudo cabe a cada um buscar de maneira adequada, nos locais adequados e conforme desejar seu coração, não deve ser tratado de maneira superficial.

Esse estudo oferece ligações, são links conectados à origem de boas ideias. Beber na fonte e buscar os originais é algo bastante importante. Toda e qualquer informação te oferece a conexão com uma origem que pode ser mais próxima da realidade e rarefeita, portanto, construtiva quanto a sua natureza positiva, ou então, negativa conectada a densidade, destrutiva que gera conflito e engano. Cada um deve aprender o quanto antes a filtrar oque pode ser útil no seu desenvolvimento e descartar o inútil. Ao invés de censurar é preferível sempre selecionar o que lhe cabe. Não gastar energia em ser contra algo, mas canalizá-la para ser a favor do que acredita, assim a liberdade de expressão pode ser garantida e aproveitada no seu máximo.

Próximos Passos

A experiência na Arte prática da Agricultura Natural é o elemento chave para realmente vivenciar e desfrutar de sua virtude. A linha de experimentos, estudos e textos seguirão objetivando a vivificação do solo, tendo como pilar o Princípio da Agricultura Natural, utilizando a parte convergente e útil do conhecimento técnico de ciência de Solo  através de Ana Primavesi e Elaine Ingham, e do sistema produtivo da agricultura Sintrópica [7] ensinada pelo Sr. Ernest Götsch, com quem pude aprender e conviver por alguns meses em sua fazenda Olhos D`água no Sul da Bahia. 

Felipe Lupusella

18/04/2023

Referências

[1] - Alicerce do Paraíso - “Concretização da Verdade” – Mokiti Okada – Meishu Sama

[2] A LIBERDADE, segundo Gibran - Série "O Profeta" - Lúcia Helena Galvão de Nova Acrópole

https://www.youtube.com/watch?v=Y-EokChUXO8

[3] A EVOLUÇÃO HUMANA SEGUNDO A TRADIÇÃO ORIENTAL - Lúcia Helena Galvão

https://www.youtube.com/watch?v=FPwLN-dsWjo&t=1061s

[4] Manual do Solo Vivo – Ana Primavesi

[5] Os 7 Hábito das pessoas altamente eficazes – Stephen Covey

[6] You – Charles F. Hannel

[7] Agricultura Sintrópica segundo Ernst Götsch – José Fernado dos Santo Rebello e Daniela Ghiringhello Sakamoto

 


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